quarta-feira, 7 de outubro de 2009

DO BLOG DO SÉRGIO RODRIGUES

Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.

A força de aforismo e o jeitão de verdade universal do início do romance “Ana Karenina”, de Leon Tolstoi (tradução de João Gaspar Simões), conduziram o escritor russo a uma vitória incontestável na eleição do começo mais inesquecível de todos os tempos. Como eu disse no já distante agosto de 2006, quando ele apareceu pela primeira vez aqui no blog, esse início “conseguiu virar aquilo que a maioria dos escritores só ousa perseguir em sonho: máxima, aforismo, provérbio, dito popular, pérola de sabedoria que parece não ter dono, mas brotar diretamente do inconsciente coletivo”.

A disputa foi animada. “O estrangeiro”, de Albert Camus, largou na frente e chegou a dar a impressão de que seria imbatível, mas acabou ultrapassado tanto por “Ana Karenina” quanto por “Lolita”, de Vladimir Nabokov (ah, esses russos…). No fim das contas, o pódio ficou assim: Tolstoi, 41 votos; Nabokov, 35; e Camus, 33.

Nas três últimas posições, houve empate entre “Moby Dick” e “Grande sertão: veredas”, com 23 votos cada um, e a lanterna sobrou para “Memórias do subterrâneo”, o preferido de 14 leitores.

Confesso que, como torcedor, saio um pouco frustrado da disputa. Entre os seis finalistas escolhidos pelos leitores, torci alternadamente por Camus (com a cabeça) e Nabokov (com a “carne”, como ele mesmo diria). Quando falo, ali em cima, em “jeitão de verdade universal”, é por desconfiar que a abertura campeã, vagamente enquadrável na categoria jornalística do nariz-de-cera, tem mais forma do que conteúdo. Não sei se as famílias felizes são todas parecidas ou se a infelicidade familiar carece de um denominador comum. Afirmar o contrário talvez funcionasse também. Mas é claro que, sendo Tolstoi um ficcionista e não um terapeuta, ponderações como essas são meio tolas.

A todo mundo que garantiu o sucesso desta brincadeira (foram 188 comentários apenas na rodada final, enquanto o blogueiro tirava umas curtas mas talvez não imerecidas férias), meus agradecimentos sinceros. E até amanhã.

Um comentário:

Antonio Carlos de Almeida Campos disse...

Ah, esqueci de votar: também votaria em "O estrangeiro" de Camus - o mais intrigante livro que li na vida - tá aqui guardado na alma, amo!!!